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A história do cristianismo – As tentativas de reforma da igreja

O PERÍODO DA IDADE DAS TREVAS E AS REFORMAS

A queda de Roma, ocasionada pela ação dos povos do norte (Alarico) em 410 lançou o mundo ocidental em um completo caos. A instabilidade se estendeu por toda a região. Os historiadores se referem ao período que vai da queda de Roma até cerca do ano 1000 como a “Idade das Trevas”. Tanto na cultura, como na educação e a até mesmo no debate teológico imperava uma mentalidade de sobrevivência. Diminuiu muito o interesse pelo debate teológico nesse período.
No mundo mediterrâneo oriental também a instabilidade se instaurou principalmente com o crescimento do islamismo na região.
No século IX havia três sistemas de poder bem definidos:
1- O Império Bizantino, cujo centro era Constantinopla (Istambul). A igreja de fala grega era dominante. Mais tarde seria a Igreja Ortodoxa separada da Igreja Romana em 1054.
2- A Europa Ocidental, principalmente em regiões como a França, a Alemanha, os Países Baixos e o norte da Itália, onde a influência papal era forte, ou seja, a igreja de Roma dominava o cristianismo.
3- O Califado, região islâmica que compreende grande parte do Extremo Oriente e do sul do Mediterrâneo.

AS REFORMAS

Durante toda a “era das trevas” a faísca dos ideais evangélicos sempre esteve acesa. Os nobres que guerreavam entre si, os partidos que disputavam o papado, e os servos que no fim das contas proviam o sustento da Europa, todos eram cristãos. A época, porém, era de profunda crise moral, religiosa, social. O cristianismo como instituição estava em crise. Havia muito a prática de simonia (compra e venda de cargos eclesiásticos) e a igreja servia aos interesses da nobreza. Em meio a tão grande degradação espiritual, a igreja começou a oferecer meios de graça para o perdão dos pecados. Os sacramentos da igreja como meio de ministração de graça foi fortalecido e o sistema penitencial se estabeleceu. Este mesmo sistema penitencial foi a origem do conflito entre Lutero e a igreja Romana, a Reforma Protestante do século XVI.
Por volta do início do século X a religião cristã passava por uma grave crise. Havia corrupção do papado e bispos, simonia e uma igreja subserviente à ambição dos prelados. O monasticismo dos tempos áureos de Bento de Ursa estava enfraquecido pelos saques e destruição causados pelos invasores húngaros, normandos e sarracenos e também pelas interferências rotineiras dos papas e bispos, que usavam os mosteiros para seus próprios fins. Com tudo isso a vida monástica se tornou símbolo de poder, riqueza e comodismo, descaracterizando-se muito dos ideais de Bento de Ursa (Benedito de Ursa) e da prática da Regra.
Apesar da crise, a vida monástica na era das trevas exercia uma fascinação constante sobre as pessoas que buscavam uma religião mais pura. Entre estes estava o duque Guilherme III da Aquitânia que em 909 fundou um pequeno mosteiro que se tornou o centro de uma grande reforma da igreja na época.

A REFORMA CLUNIACENSE

O nome é originário da região onde o mosteiro foi construído, Cluny (região da Borgonha, França).
Guilherme III doou as terras do mosteiro aos “santos Pedro e Paulo” em vez de reter para si os direitos de patrono do mosteiro. Isso ajudou a impedir a ingerência no mosteiro dos corruptos bispos e senhores feudais. Também proibiu que o papa tomasse posse do que pertencia aos dois apóstolos. A independência do mosteiro do sistema religioso corrupto da época foi um fator fundamental para que a reforma cluniacense fosse bem sucedida.
Outro motivo foi a administração do mosteiro por uma sucessão de abades de grandes habilidades e de ideais elevados: Bernom (909 – 926), Odo (926 -940), Aimardo (940 – 965), Mayeul (965 – 994), Odilo (994 – 1049), Hugo (1049 – 1109) e Pedro o venerável (1122 – 1157). Por mais de 200 anos o mosteiro de Cluny teve excelentes abades na liderança. A única exceção foi Pôncio (1109 -1122). Terceiro motivo foi a ampliação dos ideais do mosteiro de Cluny para outros mosteiros. Foi formada uma “rede de mosteiros de Cluny”.
A principal atividade dos monges era o ofício divino. Para eles a função do monge era orar e louvar a Deus, não trabalhar no campo.
Cluny foi uma motivação até para os que não eram monges, para que o ideal monástico e uma igreja pura e livre da simonia (compra e venda dos cargos eclesiásticos) fossem alcançados.
O celibato dos clérigos foi um dos elementos principais dos reformadores de Cluny.
A obediência foi outro pilar dos reformadores de Cluny. Toda a cristandade devia estar subordinada ao papa como os monges estavam.
O voto de pobreza dos monges foi reforçado valorizando assim a Regra de Bento de Núrsia.
Nessa questão de riqueza, havia uma posição ambivalente. O bom monge não devia possuir coisa alguma, o mosteiro, por sua vez, podia ter terras e possessões sem limite. Estas aumentavam substancialmente graças às heranças e doações que os mosteiros recebiam.
E foi a riqueza acumulada uma das principais causas da decadência do movimento cluniacense.
A abadia de Cluny se transformou num dos mais suntuosos templos da Europa.
A riqueza acumulada pela abadia de Cluny tornava difícil para o monge, mesmo sendo pessoalmente pobre, levar a vida simples que a Regra ensinava. Com o passar do tempo, eles perderam a simplicidade de vida que era o ideal monástico. A mensagem dos reformadores de Cluny que condenava a simonia e o luxo que os bispos viviam perdeu autenticidade.

A REFORMA CISTERCIENSE

Com a decadência do movimento cluniacense, outros movimentos reformadores tomaram seu lugar.
O nome deste movimento reformador vem do local em que o mosteiro que deu origem à reforma foi construído, Cister (Citeaux), também na França. O movimento alcançou força com Bernardo de Claraval que logo que ingressou a vida monástica em Cister foi orientado a construir um novo mosteiro em Claraval (França).
Em sua organização o movimento cisterciense devia ser simples, evitando assim a excessiva centralização de Cluny, onde tudo dependia do abade. Havia maior independência dos mosteiros. A unidade era mantida através de conferências anuais em que todos os abades compareciam.
Foi um movimento que valorizava a Regra e rejeitava a riqueza e ostentação que em Cluny havia se tornado comum.
Bernardo foi um dos maiores influenciadores da reforma eclesiástica ocorrida entre os séculos X e XII. De Claraval aproximadamente 350 mosteiros foram fundados em toda a Europa também com o espírito reformista de Cister e Claraval.

A REFORMA PAPAL

Consistiu-se em lutar para que os papas eleitos recebessem o poder dos sucessores dos apóstolos, não das mãos dos imperadores. Para os reformadores, um papado reformador deveria surgir puro desde a raiz, ou seja, o papa deveria ser eleito pelos bispos da igreja, não pelo imperador.
Outro tema da reforma papal era a abolição da simonia, que consistia na venda de cargos eclesiásticos. O papa leão IX foi um grande empreendedor que ao lado dos ideias citados acima também lutou para que a generalização do celibato eclesiástico fosse adotada. As reformas se tornaram populares pois a prática da simonia sempre colocava os cargos eclesiásticos mais altos nas mãos dos ricos, não dos mais capacitados. Também o celibato eclesiástico evitaria os clérigos mais importantes se tornassem uma classe feudal como a dos nobres, deixando herança para os filhos.
Depois de algumas sucessões papais influenciada por nobres e o imperador, o concílio de Latrão em 1059 decretou que os futuros papas deveriam ser eleitos pelos cardeais.

AS CRUZADAS

“Eu o digo aos presentes. E ordeno que seja dito aos ausentes. Cristo está mandando. Todos que forem e lá perderem a vida, seja no caminho por terra ou no mar, ou na luta contra os pagãos, terão perdão imediato de seus pecados. Isto eu concedo a todos que marcharem, em virtude do grande dom que Deus tem me dado” (Urbano III).
De todos os ideais elevados que cativaram o espírito da época, nenhum foi tão avassalador, tão dramático nem tão contraditório como o das cruzadas.
O objetivo das cruzadas era derrotar os muçulmanos que ameaçavam Constantinopla, salvar o Império do Oriente, unir de novo a cristandade, reconquistar a Terra Santa, e em tudo isso ganhar o céu. Todos os objetivos, com exceção do último (Deus o sabe), foram alcançados, porém, não de maneira permanente.
Os muçulmanos foram derrotados no inicio, mas depois expulsaram os cruzados. Constantinopla continuou a existir até o século XV quando caiu nas mãos dos turcos otomanos. A igreja latina e grega (do ocidente e do oriente) se uniram à força na quarta cruzada, mas o resultado dessa união foi que o ódio da igreja grega pela igreja latina aumentou.
A Terra Santa, devido às cruzadas esteve em poder dos cristãos mais ou menos um século, e depois caiu novamente em mãos de muçulmanos.
As peregrinações à Terra Santa
As peregrinações à Terra Santa tinham ficado cada vez mais populares. Era um costume cristão visitar o túmulo dos mártires no aniversário da sua morte. A mãe de Constantino creu ter descoberto em Jerusalém os restos da “vera cruz”. Muitas basílicas foram construídas por ordem de Helena e dos imperadores e a fascinação pela Terra Santa se tornou mais intensa no período da “era das trevas”. Neste período as peregrinações à Terra Santa foram consideradas penitências. A peregrinação era extremamente dificultosa, e por isso para os mais fervorosos a morte em peregrinação à Terra Santa era um sinal da eleição divina, como a morte nas mãos dos Império Romano o tinha sido para os mártires de antigamente.
Os que não estavam dispostos ao “martírio da peregrinação” começaram a se armar e formar pequenos exércitos, dando desde então o esboço do que seriam as cruzadas.
A primeira cruzada
– O imperador do Império Bizantino Aleixo Comneno pede socorro a Roma contra os turcos.
– Os papas reformadores procuravam de todas as maneiras por fim às guerras entre os nobres. A guerra santa foi um motivo de focarem em um mesmo inimigo, os muçulmanos.
– Crise econômica na Europa nos últimos anos do século XI (colheitas fracas sucessivas, pestes, mutilados da peste “ardente”, etc.)
– Discurso apocalíptico do papa Urbano II convocando os cristãos para a guerra santa e oferecendo indulgência plena a todos que morressem no empreendimento. Todos os sonhos apocalípticos que estiveram reprimidos durante muitos séculos nas classes baixas começaram a reluzir.
Entre as massas, o espírito apocalíptico e messiânico perdurou por várias gerações.
Na prática as cruzadas se tornaram uma instituição militar e religiosa, onde os nobres lideravam.
Depois de muitas tentativas, a primeira cruzada liderada por Godofredo de Bulhões tomou Jerusalém. Sucedeu-se uma carnificina sem medidas dos moradores da cidade.
As demais cruzadas
Após esta primeira cruzada sucederam-se outras sete e todas com exceção da sétima fracassaram em seus propósitos.
As cruzadas foram um grande movimento em que o fervor popular se mesclou com as ambições dos grandes.
Com o passar dos anos o único vestígio da passagem dos cruzados pela Terra Santa era algum castelo ou templo em ruínas.
Consequências das cruzadas
– As ordens militares (templários, cavaleiros teutônicos)
– maior distanciamento entre o cristianismo latino e o oriental.
– Prejudicou a vida dos cristãos que viviam em terras muçulmanas.
– O poder do papa se tornou mais forte na Europa.
– Culto das relíquias aumentou.
– A igreja na Europa teve que lutar contra heresias que vieram do Oriente.
– Influência da cultura islâmica na Europa.